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Sistema Dual: Colaboradores da Insignare em formação na Alemanha

Apoiados pelo programa Erasmus + e no âmbito da candidatura submetida pela INSIGNARE para incrementar os conhecimentos e competências dos seus Colaboradores – Docentes e Pessoal de Apoio, de 8 a 12 de fevereiro, doze pessoas, oriundas das várias unidades orgânicas, participaram em Berlim na ação de formação “Ensino Dual Alemão”, promovida pela nossa parceira Bright Chameleon.

Os objetivos desta formação foram:

- Analisar criticamente o sistema dual alemão, as suas vantagens e desvantagens;

- Entender o sistema dual alemão face à relação Escola-Empresa;

- Comparar o papel dos diversos intervenientes no sistema dual alemão;

- Observar o ponto de vista das escolas e das empresas em relação à orientação profissional: quais são os objetivos da Escola? O que as empresas procuram?

- Estudar o modo de certificação das competências obtidas em ambiente empresarial.

Já de regresso a Ourém, alguns dos participantes partilharam connosco o seu ponto de vista deste tipo de Ensino, e a sua eventual aplicabilidade no Sistema de Ensino Português.

 

 

Renato Guiomar

Diretor Pedagógico da EHF

(...)Confesso que é um sistema de elevadas potencialidades, interligando o ensino teórico e prático, dividindo a vida dos jovens estudantes entre a empresa e escola, predominando o tempo na empresa. Une de forma excelente a teoria à práxis, contribuindo para a integração das famílias, das escolas e das empresas. 

Durante o seu percurso os jovens são postos à prova maioritariamente na empresa, e após o período do curso os seus exames são feitos não pelas escolas, mas perante a Câmara do Comércio e da Indústria que valida os conhecimentos profissionais adquiridos. Todo este processo enquadrado legalmente e fortemente apoiado pelas empresas, ou seja é encarado como um investimento futuro nos seus potenciais funcionários.

Ao longo de toda semana foram “discutidos” todos os pormenores referentes à educação e formação profissional dos jovens; o trabalho e a competitividade; os requisitos do estado para um ensino profissional dual eficaz; as razões pelas quais os jovens preferem uma educação e formação profissional; e a cooperação bilateral. 

Semana intensa, produtiva mas que deixa um sabor amargo no sentido de que poderíamos fazer mais e melhor pelos nossos jovens, mas tenho certeza que iremos reajustar e melhorar, mesmo que isso não esteja no horizonte de muitos.

 

José Carlos Alves

Formador de Ciências Informáticas

(...)Após uma semana a ouvir testemunhos e em resumo, o que observei foi: uma forte ligação do tecido empresarial alemão com a escola e o sistema dual. As empresas veem a formação dos alunos, não como uma despesa, mas sim como um investimento a curto prazo. Os alunos recebem um vencimento durante os dias em que estão na empresa a receber formação, fazem parte integral da estrutura empresarial e futuros trabalhadores da mesma. 

(...)O sistema dual alemão pode-se replicar em Portugal? na minha opinião não é “copy and paste”. Primeiro o nosso tecido empresarial não está preparado para este sistema, depois a crise financeira que atravessamos não ajuda e não permite, por exemplo, que as empresas paguem aos alunos durante a formação em contexto de trabalho.

O que se pode fazer? Tentar aproximar mais as empresas com o sistema educacional, terem um papel mais ativo na definição da estrutura curricular. Seria ideal que todos os formadores das áreas técnicas fossem profissionais das áreas que lecionam.

Replicando um afirmação que nos foi transmitida pelos alemães e segundo John F. Kennedy: “Só existe uma coisa mais cara do que a educação A saber: a não educação” .

 

Ricardo Raimundo

Formador de Cozinha/Pastelaria

(...)No que diz respeito ao ensino dual foram vários os exemplos que pude conhecer e percebendo que o sistema funciona no país já há algumas décadas, pois o impacto da crise europeia não prejudicou tanto o país tendo em conta que a mão de obra é muito mais qualificada também devido a este sistema de ensino.

No que diz respeito à aplicação do sistema a Portugal e tendo em conta que mesmo sendo um país europeu existem diferenças que podem ser fulcrais nessa implementação tais como: as diferentes tutelas das escolas, a cultura empresarial, a economia a decisão dos Encarregados de Educação para os seus educandos e até mesmo a gastronomia e hospitalidade.

Podem ser aplicadas metodologias de trabalho nas empresas e nas escolas que permitam uma componente mais prática aos formandos e uma maior exigência aos formadores e tutores de empresas que permita, uma maior e rápida evolução.(...)

 

Carlos Mendes

Formador de Design

(...)No sistema Dual, as empresas são a parte mais importante; os pais e alunos procuram as empresas onde gostariam de fazer a sua formação dual, e com as quais assinam contrato. Alunos passam 2 dias na escola e 3 nas empresas;

- existe Cooperação entre as empresas e a escola, as empresas recebem os alunos e pagam um “salário”, que varia dos 800 aos 1050 euros, consoante sua área;

- Os professores “tutores”, recebem formação gratuita (centro de formação) para acompanhar os alunos na empresa;(...)

Relativamente ao que poderia ser aplicado, acho pouco provável que seja possível uma aplicação direta do modelo Alemão ao caso Português, pois a dimensão, o nível de associativismo e a Saúde financeira do tecido empresarial português é muito inferior ao caso Alemão. Teria de existir uma maior abertura por parte do tecido empresarial, para passarem a olhar para a formação como um investimento e não um encargo.

 

Elisabete Marques

Supervisora Técnica da EHF

A constante e contínua aproximação entre a escola e a empresa, assume-se como o pilar fundamental do ensino dual, numa consciência de que a aposta quer em termos de recursos humanos quer em termos de recursos económicos que é investida pela empresa será uma importante mais-valia no futuro. A formação dos jovens em contexto real, num local de trabalho efetivo e integrados numa equipa é, sem qualquer dúvida, a melhor forma de transmitir conhecimentos e prepará-los para o mercado de trabalho, não só como profissionais, mas também como indivíduos com as responsabilidades, direitos e deveres de qualquer trabalhador. O contributo dos Sindicatos, assume também um papel muito relevante no processo, não só na defesa e aplicação efetiva dos direitos e deveres deste alunos/trabalhadores, mas também num fortíssimo contributo na definição dos perfis e competências inerentes aos currículos que são ministrados aos alunos em contexto de escola e empresa.

Este é um dos aspetos que considerei muito importante: a participação efetiva das empresas,  das associações empresariais do sector, dos governos dos estados e das escolas na definição dos perfis e competências e currículos que são específicos de cada profissão e que pretendem dar resposta efetiva ao mercado de trabalho e às suas necessidades de formação especifica. 

 

Ana Pinho

Formadora de Gestão

A semana de formação na Alemanha começou com um enquadramento ao sistema educativo alemão que se demonstrou muito complexo. Percebemos que a realidade económica e social do país, para além do que já se sabia ser notório, é muito diferente da estrutura que encontramos em Portugal. Uma economia assente em muitas indústrias com peso nacional e internacional, que repetidamente foram mencionadas nas reuniões que tivemos com os diferentes parceiros da vertente do ensino dual ou vocacional. Estas empresas são os parceiros mais preponderantes, que chamam a si uma coresponsabilização neste processo, admitindo formalmente o formando como um elemento fundamental para os seus quadros.

As câmaras de comércio e indústria, os sindicatos e as escolas, de acordo com o que é definido pelo gabinete coordenador deste tipo de formação profissional, assumem um papel relevante na definição de programas, regras e normas de funcionamento do sistema, sempre numa vertente prática, permitindo ao aluno frequentar a escola 2 dias por semana e passar 3 na empresa. Esta é talvez a parte que mais facilmente poderemos implementar com as nossas empresas parceiras.

 

António Évora

Supervisor Técnico da EPO

(...)Na minha opinião o sistema dual alemão funciona muito bem porque está muito bem enquadrado com a realidade empresarial alemã. Qualquer tentativa de implementação do sistema dual, tal como funciona na Alemanha, em Portugal seria um fracasso tremendo.(...)

Outro aspecto que importa referir é que as empresas alemãs apostam fortemente na formação ao ponto de atingirem gastos anuais a rondar os 24 mil milhões de euros enquanto o investimento público na formação não ultrapassa os 3 mil milhões de euros anuais. 

Os alunos do ensino dual, têm de validar no final do 3ºano de formação, as suas competências através de um exame concebido com a colaboração dos sindicatos e empresas. Os exames são pagos pelas empresas, investindo cerca de 300 a 400 euros por formando.

Os formandos vão 3 dias por semana à empresa para receber a formação técnica, têm 24 dias de férias/ano, e os seus salários podem ir até aos 980 €, dependendo da sua área de formação. (...)

Tendo em conta que em Portugal a formação ainda é vista como um custo e não um investimento, só será possível implementar o sistema dual se houver uma mudança de mentalidades do nosso tecido empresarial. 

 

Yannick Génard

Formador de Cozinha/Pastelaria

(...) No ensino dual, as empresas têm um papel fundamental em termos de implicação tanto material como financeira. Eles investem nos futuros profissionais que irão exercer funções na sua empresa no final do curso. Geralmente, são eles que suportam a maioria dos custos a nível profissional.

 Além das empresas, os sindicatos, as câmaras de comércio e de indústrias, as confederações alemães de artesanato e a entidade de coordenação nacional, também são inseridos no desenvolvimento do ensino dual, servindo de apoio às empresas e aos alunos trabalhadores.(...)

 

Charly Silva

Formador de Electrónica

No sistema dual, a formação é repartida “70% empresa + 30% escola qualificante”. Os alunos procuram empresas para fazer a formação. As empresas colocam os alunos numa escola parceira, fazem contrato de trabalho e pagam um salário durante a formação. No fim dos 3 anos, realizam um exame, onde certificam a “Competência Profissional”: Especializadas+Metodológicas+Sociais. (...)

Em Portugal poderiam envolver-se mais as empresas no ensino profissional a nível financeiro e social. Parte deste envolvimento já existe, na realidade da EPO, através dos estágios realizados no 2º e 3º ano dos cursos.

O sistema dual alemão é, neste momento, inaplicável cá. Seria preciso remodelar o sistema educativo, sensibilizar as empresas para um maior envolvimento e visão a longo prazo (apostar na qualidade dos técnicos e investir na formação).

 

José do Vale

Formador de Restaurante/Bar

O mais importante talvez seja dizer que o modelo está de pedra e cal na Alemanha e perfeitamente adaptado, tanto do ponto de vista das empresas, da escola como da própria sociedade em geral, ficando a convicção da sua contribuição na criação de uma força de trabalho altamente especializada que, na grande maioria, para não dizer a totalidade dos casos, tem garantia de empregabilidade. (...) 

É de referir ainda que na Alemanha estão regulamentadas mais de 300 profissões, estando igualmente definidas para cada uma delas, as competências que o profissional deve reunir para as poder exercer, garantindo-se assim a obrigatoriedade de todos os futuros profissionais terem formação especializada na sua área. Em Portugal as profissões foram desregulamentadas.

O sistema tal como está a ser aplicado na Alemanha, será de muito difícil execução no quadro do nosso tecido empresarial, onde proliferam as pequenas e micro empresas, que como se pode chegar à conclusão depois do que já foi referido, não reúnem condições para dar e acompanhar a formação dos nossos jovens, claro que existem algumas exceções e em algumas áreas será de mais fácil implementação que noutras. (...)

 

Pedro Major

Diretor Financeiro da Insignare

(...) Não vou aqui elencar as diferenças entre o sistemas dual alemão e o ensino profissional dual em Portugal, até porque as principais diferenças já terão sido abordadas pelos colegas que participaram nesta formação. Evidencio também eu, o fundamental papel das empresas na formação profissional e coloco uma questão. Qual é afinal o papel das escolas no ensino dual alemão?

Sabemos que em média os alunos/formandos passam apenas 30% a 40% do tempo na escola, durante o qual terão de ser lecionadas as disciplinas de caráter mais transversal, transmissoras de competências na área do saber ser e confirmada a aquisição de conhecimentos na área do saber fazer (transmitidos pelas empresas) por um docente especialista na área de formação do aluno.

Assim, e caso o modelo se aplicasse diretamente em Portugal o que iriam fazer as escolas com uma grande parte dos seus professores e restantes colaboradores, com os seus espaços oficinais e respetivos equipamentos, com o saber acumulado de mais de 25 anos de existência? 

Penso que o modelo não pode ser copiado e aplicado em Portugal exatamente como se encontra implementado na Alemanha, mas que devemos aproveitar o exemplo de uma maior intervenção das empresas na formação dos jovens, disso não tenho dúvidas.

 

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